w.c constrangido

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domingo

Mahmud Darwish


O muro

Uma enorme serpente de metal rodeia-nos. Vai devorando as pequenas paredes que separam o quarto e a casa de banho e a cozinha e a sala de estar. Uma serpente que não se move em linha recta para evitar os nossos olhares. Contorce-se e volta-se, como um pesadelo de segmentos de cimento reforçado com metal flexível…Facilitando-lhe que se mova por entre os pedaços fragmentados e os testos de menta que nos sobram. Uma serpente que trata de pôr os seus ovos entre o nosso expirar e inspirar. Digamo-lo de uma vez: nós, pelo excessivo sufoco, somos os estrangeiros. Olhamos aos espelhos e não vemos mais que a serpente aproximando-se do pescoço. Mas nós, forçando um pouco a vista, vemos o que há lá encima: um céu bocejando, aborrecido dos arquitectos que o revestiram de rifles e bandeiras. E vemo-lo pela noite, brilhando junto às estrelas que nos olham com carinho. E também vemos o que há por detrás do muro serpenteante: vemos guardas do gueto, temerosos do que fazemos por detrás do que sobra das nossas paredes…Vemo-los engraxando as armas para matar a ave Fénix que pensam escondermos num galinheiro. 

E não podemos deixar de nos rir! 


بطاقة الهوية 

(Bilhete de identidade)