w.c constrangido

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quarta-feira

Assobiar com os dedos*


Do que nós precisávamos
era de uma salva de palmas no final de cada sonho

e de assobiar com os dedos
de assobiar com os dedos como faziam antigamente os tolos
das janelas dos comboios.

Mas agora os comboios só abrem as janelas pela metade
com medo que entre toda a paisagem
pela carruagem adentro
e accione subitamente o mecanismo de emergência

e os tolos

os tolos preferem ficar em terra
a imaginarem objectivamente outros tolos ainda mais tolos
a mijarem nos flancos dos comboios
e a rirem-se da dimensão da terra

e a gritarem:

                            Reucatrapéu passarinhos ao ninho! 

 Pobres tolos

(...)


* Fragmento de um poema inédito; recitado pela primeira vez na edição deste ano do festival internacional de poesia, Raias Poéticas.