w.c constrangido

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quinta-feira

Um serralheiro e uma equipa de astronautas

Movido por um desígnio que a razão não explicava
avancei sobre o centro do universo...

Agarrei no meu estado de ânsia
na lanterna a pilhas,
na escada de quatro pés
que usara no passado para ser mais alto que o meu outro Eu...
e errei destemido pelo sotão da imaginação
até alcançar um exíguo limiar
de onde gozara de vistas para a infância
e onde hoje só uma farmácia se vê
no cruzamento da 19
com a rua 7

e a voz de um velho:        hoje há morto

(Posicionei o meu estado de ânsia e acendi a lanterna)

Ao chegar ao degrau cimeiro da escada
- uma fina poalha cósmica abordava já o meu rosto...
confirmei duas enormes fendas
originadas, deduzi eu, por um inexorável labirinto de fios eléctricos
que fundeara ali outrora para ter extensões à ausência
e que agora, para além de me trazerem os Invernos mais cedo,
impediam a minha passagem.

Decidi chamar um serralheiro para resolver-me o problema.

Depois de uma vistoria pormenorizada
o serralheiro
proferiu o seu veredicto:
                                                 menos toléria da sua parte

ou em último caso e se fosse muito urgente
que chamasse uma equipa especializada de astronautas.

Apresentou-me a conta do serviço de deslocamento: 20 euros

Quanto?
                            20 euros

Inseri a mão no meu bolso direito das calças
e retirei um pedaço de mim gravado num lenço de papel
onde a palavra Fim
se aureolava
não sei porque intangibilidade

O serralheiro desabafou-me:

                                          olhe que isto está muito mau amigo                           

Como amigos realmente não eramos
fiz então uso do traço mais ambicioso da minha inteligência
e informei-o que possuía contactos em todo o universo

e que...

Mas o serralheiro arremessou os ombros
furtando-se às minha intenções

E eu tive que resignar-me a descer à terra
e abrir dos cordões
à bolsa.