Eram oito e trinta e cinco da manhã quando recebi
uma mensagem:
“Oh primo! Essa vida? As coisas pela terra,
como vão? Muito trabalho? E a Tia Amélia, como
está? Melhor da anca? A fuça materna!... Tenho saudades
dela, sabes... Diz-lhe que se mantenha firme! O
espírito, meu primo, o espírito primeiro! A saúde logo
se vê... Meu querido primo, escrevo-te para comunicar
que decidi seguir o teu conselho. É verdade. Foi uma
decisão difícil. Se foi! Ponderei todos os pormenores
à exaustão; todos os prós e contras que me faziam
hesitar sobre a decisão final. Consultei a família, que
opinou afirmativamente, apesar dos reticentes pensamentos
do meu filho mais novo; sempre foi um obstinado
este meu rapaz e sempre a contrariar o Pai! Mas lá no fundo ele entendeu as minha razões... Ah,
meu primo, como sofremos por estes nossos filhos,
como sofremos! Mas eles acabam por nos dar razão!
É a juventude e esta sua eterna irreverência. Tu sabes
do que eu falo. Pois meu querido primo, como te disse, decidi seguir o teu conselho. Tinhas a verdade
do teu lado: é o mais sensato, pelo menos por agora,
optar por este caminho (...) Não me vou alongar mais
nas minhas palavras e nem roubar mais do teu precioso
tempo. Dizer-te somente que estou infinitamente
grato pelos teus sempre sábios conselhos e pela tua
amizade perene... E ainda hoje, meu querido primo,
ainda hoje, suicido-me.
Um abraço do sempre e muito
teu, o primo Abel.”
Apaguei a mensagem e fui aquecer um pouco de
leite.